sábado, 26 de fevereiro de 2011

Era uma vez um pássaro. Adornado com um par de asas perfeitas e plumas reluzentes, coloridas e maravilhosas. Enfim, um animal feito para voar livre e solto do céu, alegrar a quem o observasse.
Um dia, uma mulher viu este pássaro e se apaixonou por ele. Ficou olhando o seu vôo com a boca aberta de espanto, o coração batendo mais rápido, os olhos brilhando de emoção. Convidou-o para voar com ela, e os dois viajaram pelo céu em completa harmonia. Ela admirava, venerava, celebrava o pássaro.
Mas então pensou: talvez ele queira conhecer algumas montanhas distantes! E a mulher sentiu medo. Medo de nunca mais sentir aquilo com outro pássaro. E sentiu inveja, inveja da capacidade de voar do pássaro.
E sentiu-se sozinha.
E pensou: ''Vou montar uma amardilha''. A próxima vez que o pássaro surgir, ele não mais partirá''.
O pássaro, que também estava apaixonado, voltou no dia seguinte, caiu na armadilha, e foi preso na gaiola.
Todos os dias ela olhava o pássaro. Ali estava o objeto de sua paixão,e ela mostrava para suas amigas, que comentavam: ''Mas você é uma pessoa que tem tudo''. Entretanto, uma estranha transformação começou a processar-se: como tinha o pássaro, e já não precisava conquistá-lo, foi perdendo o interesse. O pássaro, sem poder voar e exprimir o sentido de sua vida, foi definhando, perdendo o bilho, ficou feio - e a mulher já não prestava atenção nele, apenas na maneira como o alimentava e como cuidava da sua gaiola.
Um belo dia o pássaro morreu. Ela ficou profundamente triste, e vivia pensando nele. Mas não se lembrava da gaiola, recordava apenas o dia em que o vira pela primeira vez, voando contente entre as nuvens.
Se ela observasse a si mesma, descobriria que aquilo que a emocionava tanto no pássaro era a sua liberdade, a energia das asas em movimento, não o seu corpo físico.
Sem o pássaro, sua vida também perdeu o sentido e a morte veio bater à sua porta. ''Porque você veio?'', perguntou à morte.
''Para que você possa voar de novo com ele nos céus'', respondeu a morte. ''Se o tivesse deixado partir e voltar sempre, você o amaria e o admiraria ainda mais; entretanto agora você precisa de mim para poder encontrá-lo de novo''.

Trecho do Livro: Onze Minutos de Paulo Coelho.

USUFLUA!

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